Muito obviamente vou contar-vos como foi a minha experiência em Barcelos... Podia resumir tudo na palavra MARAVILHOSO, mas há tantos pormenores tão lindos que vai ser complicado conseguir transmitir aquilo que senti esta semana, muito menos a intensidade com que o senti...

Vou começar por vos dizer que quando lá entrei estava com um sentimento que não se chamava medo, mas sim PÂNICO. Eu não fazia ideia de como era aquilo lá dentro e imaginava lá os "maluquinhos" todos enfiados numa sala sempre aos berros e a agredirem-se mutuamente e a quem se aproximasse...

Aaaaaaaaai que eu estava tão enganada... É verdade que às vezes as agressões acontecem, mas um aspecto muito interessante que eu não experimentei, mas que me foi relatado, é que eles têm todos tendência a defender as pessoas que vêm de fora... Ou seja, se há algum deles que se aproxima demais ou que faz alguma coisa que esteja a incomodar vem logo outro atras dizer-lhe para não fazer aquilo e para nos defender...

O grupo das pessoas inscritas foi dividido em 4 grupos mais pequenos e cada um ocupava-se de uma unidade diferente. As unidades são as diferentes zonas da casa em que os doentes são divididos por tipo de doenças e por idades. A minha foi a de Santo António e encontrei lá gente magnifica... Posso começar a enumerar as coisas bonitas que me disseram e que eu vivi:

• Fui pedida em casamento! Senhor Joaquim, vulgo Palhotas, pediu-me em casamento e  fazia-me verdadeiras serenatas todos os dias! Aquele sorriso depois de cada música que era um encanto!

• O senhor Tomás fez me o favor de me dizer que eu tinha um cabelo bonito e tava sempre a meter-se comigo... Aquele gostava de conversa!

• Aprendi uma música chamada Paloma que não me sai da cabeça e uma versão da Casa Portuguesa muito alternativa... O senhor Pimentel cantava que era um espetaculo! Quando ele estava bem disposto e eu lá lhe pedia para cantar era uma alegria tão grande... Foi dos utentes mais simpáticos e amorosos que lá estavam...

• O David é um utente extraordinário... Fui passear com ele até à cidade e ainda o convidei para dançar! Foi o meu par de dança lá...

• O senhor Domingos é indiscritivel... Esteve uns anos no Brasil e ficou com o sotaque, quando eu o comprimentava recebia sempre um "Oi garota, boa tardji!" Uma vez ele ainda me disse "Você é uma minina muito bonita... Tem poucos namorados... As mininas que têm muitos namorados ficam feias... E você é muito bonita". Não é lindo???? E ainda me disse "Seu nome é Silvana??? Silvana é feio, agora fica Silvinha que é mais bonito!" Ri-me tanto!!!!!

Eu tinha um verdadeiro leque de artistas, desde cantores a improvisadores de instrumentos musicais, pintores, modelos fotograficos, bailarinos, contadores de anedotas e declamadores de poesia; tinha gente muito conversadora e outros que gostavam muito do seu cantinho...

Fico feliz ao saber que quando nós chegavamos e eles nos viam ficavam contentes e queriam-nos cumprimentar e ainda havia alguns que eram até demasiado expressivos... Muitos beijinhos e muitos abraços...

Houve, ainda, momentos de verdadeira reflexão, oração e um outro tipo de aprendizagem... Ao longo do tempo desaprendi a rezar, mas descobri que há tantas maneiras de se orar e viver Deus... Quanto mais não seja ficar deitada no chão a olhar para a estrelas, a cantar e a rir... Ou ficar simplesmente em silêncio, parar e poder pensar, ou simplesmente estar um pouco longe do ruído do dia-a-dia que é mesmo capaz de me endoidecer... Ou rezar em conjunto com o grupo e responder a perguntas que eram colocadas, permitindo um conhecimento interior maior... Ou fazer uma caminhada de 7km e no fim andar a cavalo, uma experiência tão relaxante... Ou dar um sorriso ou um olá a quem passa... Ou então vestir-me de policia feio (e feio é mesmo feio!) e andar para lá a tentar animar a malta na nossa pequena festa de despedida... Ou ir passear com eles...

Conheci gente que me ensinou tanto... Desde a alguns dos meus colegas, que me mostraram muita coisa... Ao Irmão que nos acompanhou, o Irmão Zé Paulo, que é de uma acessibilidade, simpatia, compreensão, solidariedade, boa disposição, e tudo que há de bom numa pessoa... Juro que mesmo que tente muito e muito pense eu não sou capaz de encontrar um único defeito naquele homem... é um verdadeiro modelo!

Tenho, ainda, a referir que não tive uma semana em que tivesse chorado tanto... Não chorei por tristeza nem por medo... Chorei antes pela emoção de viver momentos tão lindos, pela descompressão que senti, por saudades na despedida, porque vi um filme e como já disse eu choro sempre muito e pronto e porque vi muuuuita gente a chorar também, sou muito solidária!

Foi uma semana maravilhosa realmente, aprendi tanto... Agora sei que eles não são uns "maluquinhos" porque basta estar lá para perceber o quão ignorantes somos e o que estivemos a perder até agora... Pode parecer um palavreado muito bonito e que só se aplica na teoria... Pois garanto-vos que não é... E não conheço uma única pessoa que não tenha amado estas experiências, ou uma única pessoa que conheça uma única pessoa que não tenha amado estas experiências.. Perceberam???

Espero poder repetir e aconselho vivissimamente a toda a gente a participar, basta clicar aqui, para chegar ao sítio da Juventude Hospitaleira e poderem inscrever-se.